Dar a outra face, mas não calar a voz
- Fernanda Bueno, Helen Gutstein e Priscila Michele
- 29 de jun. de 2016
- 5 min de leitura
Segundo dados da ONG International Society for Human Rights, 80% da discriminação religiosa que ocorre no mundo atualmente é voltada contra os cristãos.

Alguns países não permitem aos cristãos ter Bíblia em suas casas (Crédito: Helen Gutstein)
“Cadê o pastor que rouba?”, “já pagou o dízimo hoje?”, “crente é tudo idiota!”, “crente não pensa"! Essas foram algumas das frases que o missionário Luiz Eduardo Motta já ouviu por ser cristão. Ele revela já ter sofrido verbalmente por expressar sua opinião e defender seu ponto de vista bíblico.
Mesmo em um país laico, há cristãos que sofrem com a intolerância religiosa. Em grande parte, ela é indireta, mas ela existe, de acordo com o missionário. Ele conta que, em certa ocasião, na Câmara de Curitiba, um grupo de pessoas debochou de sua fé e de mais alguns cristãos que estavam com ele. “Em momento algum atacamos algum grupo que estava ali. Só estávamos defendendo o ponto de vista da Bíblia”, afirma Luiz.
O missionário finaliza citando o capítulo bíblico de Gálatas 5 que trata sobre os frutos do Espírito e defende que, mesmo em meio a tanta agressão, um cristão tem que responder com respeito. “O cristão que não responde com amor a uma ofensa, deixou de ser um cristão. Ele passou a ser defensor de suas próprias crenças, de suas próprias verdades e não das verdades de Deus”, complementa.
Entrevista com o missionário Luiz Eduardo Motta (Repórter: Helen Gutstein)
Casos como esse ocorrem todos os dias ao redor do mundo. Há relatos de diversos missionários que sofrem com a intolerância religiosa. De acordo com o PewResearch Center, quase 75% da população mundial vive em áreas em que as restrições religiosas são graves. Cerca de 332 cristãos morrem por mês por causa da sua fé. Esse número representa, em média, 11 mortes todos os dias.

(Crédito: Fernanda Bueno)
O Pastor Fernando Camargo é secretário geral de Missões da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) do Brasil, que conta com mais de 60 missionários atuando em 22 países. Alguns deles encontram-se em áreas de risco, países em que a igreja é perseguida.
Ele narra um acontecimento que aconteceu com uma missionária que, por questão de segurança, não quis citar o nome. “Por anos sofremos ameaças pelo trabalho que vínhamos fazendo. Cerca de três anos atrás tivemos nossa igreja incendiada. Um grupo rebelde da religião predominante incendiou a igreja simplesmente por discordar da fé pregada por nossa missionária”, lamenta.
Quando comparando o que se vive no Brasil em relação a outros países, o pastor coloca nosso país como pacifico. Mesmo tendo alguns casos e relatos, a realidade é muito diferente dos países onde a intolerância se tornou perseguição religiosa. “Em países mais fechados ao Evangelho, gera um desconforto para aqueles que não toleram o cristianismo”, comenta o pastor.

Obreira Derli Soares de Lima, (Crédito: Helen Gutstein)
O silêncio
A intolerância religiosa pode ocorrer de duas formas: direta ou indiretamente. A partir do momento em que a expressão de culto é assegurada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Constituição Federal, quem não respeita essas leis está cometendo um crime. Isso ocorre principalmente quando o opressor trata de maneira diferente o indivíduo que segue sua crença, construindo barreiras nas relações humanas.
Pelas ruas do centro de Curitiba, a equipe do Cristianizando Jovem coletou depoimentos de pessoas que afirmam sofrer, ou já ter sofrido, constrangimento por seguir a Cristo. No trabalho, na faculdade, nas ruas e, principalmente, na própria casa.
Entre os entrevistados, uma mulher contou que foi humilhada por uma amiga. Consideravam-se como irmãs, mas, quando começou a frequentar a igreja, a amiga se afastou. Outra mulher diz que sofre preconceito diariamente por seguir as doutrinas de sua religião. “As pessoas não me respeitam por eu ser Testemunha de Jeová. Desrespeitam e zombam nossas normas, inclusive pessoas de outras religiões”, comenta. Nenhum dos cristãos entrevistados quis gravar o seu relato.
Vídeo Cristianizando Jovem nas ruas. (Crédito: Helen Gutstein)
Denunciar é o primeiro passo para acabar com a intolerância
Cristãos podem defender sua crença, mas também é importante evitar que outras pessoas sofram constrangimentos e agressões. No Disque 100, canal da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, são classificadas denúncias de intolerância religiosa. De 2011 até os dias de hoje, houve um aumento de 3.706% da violência, além de números incógnitos, daqueles que não denunciam.
Junior Ribas, 27 anos, é diretor e apresentador da ONG cristã “A Banca”, que acompanha moradores de rua e jovens dependentes químicos. Ele conta a experiência que sofreu em um veículo de mídia por ser cristão. A discriminação acarretou, alguns dias depois, na demissão de Junior. Ele é mais uma das vítimas que sofrem por seguir uma religião e não negar sua fé.
Junior Ribas conta que foi demitido dias depois de se recusar a omitir nas redes sociais que é cristão. Ele suspeita ser um caso de perseguição religiosa. (Crédito: Helen Gutstein)
Reconhecer a agressão é um dos primeiros passos para que o preconceito sofrido não venha ser constante. A violência verbal ocorre, também na internet, por agressores que oprimem a liberdade de outras religiões através de comentários preconceituosos e ofensivos.
Segundo o Guia de Direitos, o cidadão tem direito de buscar recursos para acabar com a intolerância e a perseguição religiosa. “Denunciar o preconceito ajuda futuras vítimas e toda a sociedade. Qualquer tipo de ofensa, tanto moral quanto física, deve ser denunciada. Todos os tipos de Delegacia têm o dever de averiguar casos desse tipo”, diz o Guia.
Fortalecer os oprimidos

Diácono José Fernandes de Lima (Crédito: Helen Gutstein)
A perseguição religiosa de cristãos ocorre quando a intolerância “alcança” um nível extremo. De acordo com dados da Organização Internacional Portas Abertas, a perseguição aos cristãos teve um aumento em 2015, em relação aos outros anos. Casos de violência física foi resultado de 7.106 cristãos mortos e 2.425 igrejas atacadas no ano passado.
O agressor, que muitas vezes faz parte de grupos influentes da sociedade, proíbe, com ameaças, a conversão ao Cristianismo. Forçados a deixar suas casas, empregos, faculdade, por conta da violência física, medo da tortura, receio da morte. A perseguição religiosa concentra-se em grande número no Oriente Médio, com diferentes classificações, de acordo com o nível das agressões.
As classificações são destacadas no Mapa, criado e atualizado a cada ano pela ONG Portas Abertas. São mais de 60 nações que sofrem por ser cristãos. Países como Coréia do Norte, Iraque, Eritreia e Afeganistão estão entre os que a perseguição é classificada como extrema. O grau dessa violência sofrida pelas vítimas custa a própria vida.
Oração e ação
Além de reeducar as Igrejas para combater a perseguição aos cristãos, a ONG Portas Abertas, tem como objetivo fortalecer os cristãos. O foco é capacitar as pessoas que seguem a Cristo, para que permaneçam firmes diante da perseguição. Assim como a Organização, existem outras ONGs que tem atuado nos países mais opressores do mundo.
Suas atuações internacionais são realizadas em escritórios denominados “base de desenvolvimento” e “base de projeto” que estão subdivididas nos países. A base de desenvolvimento reúne países como África do Sul, Alemanha, Austrália, Brasil entre outros. E visa levantar fundos para projetos em campo, contando com patrocínios.
A base projeto são departamentos que executam e informam as bases de desenvolvimento sobre como está a situação dos cristãos perseguidos. A importância do trabalho dessas ONGs é o apoio às vítimas de intolerância religiosa, proporciona auxílio e força para não desistirem e persistirem em sua fé.
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